Quentinho, macio e aconchegante, como imaginamos que seja o bucho da mamãe (psicanalistas mais afoitos garantem que a gente continua lá). E tem mais um ponto de identificação: de vez em quando nos deixa naquela água. Inaugurado no Rio de Janeiro (Copacabana), no dia 13 de dezembro de 1968 (ano de fatídica memória), o bom, velho e cultuado Bip (onde acontece, todo domingo, a melhor roda de samba da cidade), está comemorando aniversário. Tim Tim, Alfredinho, onde você estiver!
Já foi dito que o bar é o segundo lar. No caso do Bip-Bip, a serviço permanente do porre e da amizade sem fronteiras (é um tal de se esbarrar com estrangeiros perdidos entre batidas e cervejinhas), é o primeiro para muita gente boa. Tudo isto com as desconfortáveis faltas que o útero da mamãe nos faz. Existe a falta de espaço, temos o abuso involuntário de alguns irmãos e o desfilar maroto das “maninhas”, rolando nas cantorias.
Os músicos generosos que tornam as noites do Bip mais doces são todos nossas mães. Dão colo para a alma e os ouvidos e não reclamam nem quando um rebento mais (des) mamado despenca sobre as mesas e os instrumentos. Segue a vida e tome polca (no caso, samba e/ou choro e/ou bossa nova até o menino dormir).
Nas paredes do Bip-Bip, além das imagens do fundador e piloto que o comandou até 2019, quando cantou, sambou e bebeu para subir, convivem em perfeita harmonia o passado, o presente e o inusitado. Alfredinho está caricaturado por vários gênios do traço, como Amorim, Paulo Caruso e Ique, e retratado aos abraços com grandes nomes das letras e da música: olha ele lá, marrento e p, com Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro, Beth Carvalho, Lena Frias (de saudosa memória), Cláudio Jorge e com tantos outros.
Também brilham nas paredes Cristina Buarque (embrião primeiro e pioneiro), Walter Alfaiate, Elton Medeiros, Mário Lago, Nelson Sargento, Moacyr Luz, Clementina de Jesus, Cartola, Carlos Cachaça, Chico Buarque, Wilson Moreira, João Bosco, Naná Vasconcelos, tanta gente. Tempo e espaço se fundindo, se integrando, convivendo, convivendo, convivendo.
Se aquelas paredes falassem, ia ser muito bom de se ouvir.
Na qualidade de frequentador (hoje, ocasional, mas que já foi frequente), posso dizer que o b Bip-Bip é um excelente lugar para se viver (até porque, é confuso e desorganizado, como a vida) e, possivelmente, seja um bom lugar para se morrer (de susto, de bala ou vício), entre afetos, afagos e fundo musical amoroso.